sábado, 1 de fevereiro de 2014

O amor e o crânio

XII
O amor e o crânio
VELHA VINHETA

O amor sentado sobre o crânio
Desta humanidade,
E sobre este trono profano
A rir de maldade,

Sopra a sorrir bolhas redondas
Que sobem pelo ar,
Como se ao mais longínquo
mundo
Quisessem chegar.

O globo luminoso e frágil
Voa arrebatado,
Rompe e escarra a alma delicada
Como um sonho dourado.

Escuto o crânio a cada bolha
Gemente rezar:
- "Esta feroz farsa ridícula
Quando irá acabar?"

"Pois o que a tua boca amarga,
Joga pelo ar langue
É cérebro, o monstro assassino,
É o coração e sangue!"


(Charles Baudelaire)

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

give me love


sexta-feira, 7 de junho de 2013


sexta-feira, 24 de maio de 2013

terapia do descaso

não sei o nome mas sei que me quer afastada. como se minha respiração agora fosse densa e eu precisasse de ar - muito mais do que antes. a distância de alguns dias não é suficiente, não quando o que preciso é não olhar e não ser olhada.
isso me constringe a uma fuga despreparada, da qual sei que não sou capaz. necessidade e covardia me jogam de lado a outro, num jogo sujo.

por muito tempo, eu pertenci ao silêncio. há silêncios que não exigem som para se quebrar. meu silêncio é de lugares a serem explorados e a viagem só comporta um.
eu sou assim. muito possessiva com meu silêncio espaçoso e muito vaidosa do espírito.

(se eu fingir não ver, talvez consiga fazer com que desapareça. se tentar todos os dias, talvez dê certo.)

mas eu terei medo. e será meu também. preciso dos meus silêncios, dos meus mistérios, dos meus tropeços, dos meus gritos. preciso da minha exploração individual.
e preciso sozinha.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

mit Liebe


mas ela nunca soube dizer

Faz tempo desde a última vez em que visitei estas minhas velhas memórias obscurecidas pelo caminhar do tempo, que me obriga a ser prática para sobreviver. Mas às vezes eu ainda retorno àquela história e a revejo com complacência, juntando o máximo de pedaços que eu consigo recordar, como se eu fosse a única capaz de escrever um livro sem fim. E às vezes também, as sombras me envolvem de um jeito diferente e as cores despertam em mim um reconhecimento inédito de certas coisas que ficaram por serem contadas.

Não era uma pessoa cujas nuances atraíssem minha atenção, não como Liesel. Porém, de fato, havia mais sob a superfície do eu me permiti observar, em minha ânsia por acompanhar a pequena ladra de livros.


.
A primeira vez que ela tocara a menina, Rosa Hubermann não foi gentil. Nem nunca seria. Suas mãos eram ásperas e acostumadas a mudar o rumo das coisas para o que ela queria, independente de qualquer tendência natural. Ela deixou que a menina habitasse em sua casa, mas seu coração parecia uma rocha bruta demais para que Liesel pudesse se aproximar. Ela só a chamava por Saumensch, e Liesel aceitava porque não tinha escolha.

Conforme os anos passavam, Rosa transformou-se ainda mais numa criatura cor de cinzas, como se a rocha-Hubermann sofresse silenciosamente com a erosão. Para a Meminger, a severidade com que era tratada continuava igual, então isso era prova suficiente de que a Mama ainda era a mesma.

O que Liesel não podia notar (e cabe a mim, portanto, deixar registrado) é que a cor desbotada dos olhos de Rosa adquiriam um tom rosado quase imperceptível toda a vez que Liesel estava perto, e toda vez que ela ficava fora de casa por muito tempo. Mas Rosa nunca soube dizer, porque era um misto incompreensível de preocupação e carinho, severidade e orgulho, invasão e pertencimento. Todos os sentimentos que se embolavam juntos dentro dela, batendo-se contra a rocha sólida, e impediam que a voz saísse.

No final, o cadáver de Rosa estava quase igual à sua própria alma: tão translúcido, que não havia mais vestígios da fuligem que impregnara a sua pele a maior parte da vida. Pouco antes que eu a levasse, no último meio suspiro de bravura que Rosa Hubermann tomou, de os olhos fechados, seus lábios fracamente formaram algo: "Lie-". Por muito tempo, eu imaginei que ela quisesse dizer Liesel. Mas, agora, depois de repensar este cinza brando que a princípio não me dizia nada, eu sei o que ela tentou dizer.
Liebe
.
(Dizem os humanos que uma vida de memórias toma conta de quem está prestes a morrer.
Tudo o que eu sei é que Rosa estava pensando na menina.)

"So I won't let you close enough to hurt me, no
I won't ask you to just desert me
I can't give you the heart you think you gave me
It's time to say goodbye to turning tables"


N/A: Liebe: amor. / mit Liebe: com amor; com carinho.
Turning tables, Adele.

domingo, 4 de setembro de 2011

Bluebird


there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I'm too tough for him,
I say, stay in there, I'm not going
to let anybody see
you.
there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I pour whiskey on him and inhale
cigarette smoke
and the whores and the bartenders
and the grocery clerks
never know that
he's
in there.

there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I'm too tough for him,
I say,
stay down, do you want to mess
me up?
you want to screw up the
works?
you want to blow my book sales in
Europe?
there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I'm too clever, I only let him out
at night sometimes
when everybody's asleep.
I say, I know that you're there,
so don't be
sad.
then I put him back,
but he's singing a little
in there, I haven't quite let him
die
and we sleep together like
that
with our
secret pact
and it's nice enough to
make a man
weep, but I don't
weep, do
you?
Charles Bukowski