domingo, 5 de dezembro de 2010

Minutos

Eu não sei quantos foram, não contei. (se soubessem que eram os últimos, teria contado) Sei que foram poucos, rápidos e violentos. Como se o tempo que passamos juntos pudesse também ser contado em minutos, breves e eternos. As coisas parecem idiotas e inúteis, espero que possa desculpar. Talvez o pior tenha sido que não foi nada como imaginei que fosse. Uma mente de criança pensa nas coisas mais simples, não é? Eu pensei. E ainda penso, mas dessa vez com saudade. Vontade ingrata essa, de poder ter tudo de volta. Mas não posso mentir. Finjo para que não perguntem, seria além da conta dizer em voz alta. Sabe que eu ainda não pronunciei as palavras? Nem pretendo. Eu apenas conto, daqui pra frente.

3 de Dezembro 2010
( eu vou contar )

domingo, 24 de outubro de 2010

Quem dentre nós não sonhou,

quem dentre nós não sonhou, nos seus dias de ambição, com o milagre de uma prosa poética, musical sem ritmo e sem rima, flexível e desencontrada o bastante para adaptar-se aos movimentos líricos da alma, às ondulações do devaneio, aos sobressaltos da consciência?"
- Baudelaire (Pequenos Poemas em Prosa)

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Amor de Rosa


É entre pétalas declamadas
Onde enamorados encontram mais regozijo
Galanteando em jardim as nuances entrelaçadas
Da mãe-natureza o eterno brilho
Se por uma flora a atenção lhe é capturada,
A mão estica e agarra a calda
O fulgor refletindo a face adorada
Presenteia-a com o autêntico espelho d’alma
Porém coração que ama nunca se pergunta
Qual o destino da flor arrancada
Tão mais bela que a prima adjunta
Com carinho à mão dada
Ironia da mente apaixonada,
Tão tomada da paixão o calor,
É que ignore que a rosa retirada
Por todos, foi privada de viver seu amor. 

domingo, 28 de março de 2010

Na Sunshine

Um ano da Revista Sunshine comemorado com muita Literatura de qualidade :D
Meu texto foi o "Reversal Terçã", pag. 33. 


Link para download da revista: 


Sobre o projeto: 

sábado, 13 de março de 2010

In.sub.versão




Com o inferno na cabeça
E a terra dançando nas mãos
Ela anda sem pressa
Pela estrada sem direção

Nos pés tem as flores
Colhidas pelo caminho
Perpassando um ritmo leve
Por estes lábios cor de vinho

Acorda a terra e deixa que a siga
O aviso dado
Sem dada a importância,
Silencioso fica

A cor que não é mero capricho visual
Tão brilhante
É um chamado >Venha!!<
Gritante

(Afinal, o que mais uma menina quer
Que um lobo solteiro?)

O perigo se aproxima
E ela ignora ao vê-lo
Dissimulada e cínica
Quem lhe ensinou este truque soberbo?

Mas talvez astuto demais
Até para ela
As garras agarram
E a levam com elas

Nos olhos o medo, puro desespero
Não se esperava por isto!
Este não é o caminho!
>Tarde demais, querida chapeuzinho...<

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

...são os outros


O chuveiro ligado
E o café esfriando na mesa
Será que esse mundo virado
Tem conserto com certeza?

domingo, 21 de fevereiro de 2010

PWNED

Na placa que deveria lhes mostrar o caminho estava escrito: 
VOC^EEKSTÀPERDIDON .


sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Cassarah


Sopros cálidos de encontro à pele
Misturam-se a beijos cegos
E bailam juntos à melodia dos corpos

Cadências cardíacas marcam o ritmo
Uma macumba, um samba, um hino

Um arlequim e uma colombina
Um rei e uma concubina

É a festa da carne, meu amor
Somos quem quisermos ser
Esqueçamos hoje tudo, inclusive a dor

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Rotina



"A idéia é a rotina do papel.
O céu é a rotina do edifício.
O inicio é a rotina do final.
A escolha é a rotina do gosto.
A rotina do espelho é o oposto.
A rotina do perfume é a lembrança.
O pé é a rotina da dança.
A rotina da garganta é o rock.
A rotina da mão é o toque.
Julieta é a rotina do queijo.
A rotina da boca é o desejo.
O vento é a rotina do assobio.
A rotina da pele é o arrepio.
A rotina do caminho é a direção.
A rotina do destino é a certeza.
Toda rotina tem sua beleza."
Arnaldo Antunes

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Alguém pior



Nunca, em nenhuma vez na minha vida precisei acreditar em Deus. Me orgulho disso, significa liberdade criativa para mim.
Mas às vezes, muitas vezes, eu queria acreditar no Diabo. Só para saber que existe alguém pior que você. 

Morte em VI Atos

I

- E então, o que está esperando?
- Espero você.
- Não, não sou eu. Você só não consegue admitir.
- Talvez você esteja certa.
Ela se vira. O vento projeta sombras e ruídos na noite fria, mas ele já não está mais lá para assombrá-la.

II

- Por que voltou?
- Voltei por você.
Dor.
- Não seja cínico.
- E por que não? Desde quando você liga para a verdade?
Desde que descori suas mentiras, pensou. Engasgada de lágrimas, não conseguia responder.

III

- Você sabia?
Silêncio.
- Eu sempre soube...
- Então por que não me contou?
Pavor emerge como ferrugem no corpo, impedindo que fuja. Vê uma janela aberta e pensa Por que não? – O inferno já a alcançou.

IV

- Não queria que me visse assim...
- Sabe que não me importo.
- ...realmente não queria...
- Não faz diferença.
- ...nunca pensei que chegaria a isso...
Sempre fora sobre aparência; tudo o que ele lhe diz são mentiras, sempre foram. Quantos meses fazia? Quanto tempo leva para uma alma se despedaçar inteira?  
Perdera a noção de tempo, porém ganhara em experiência de dor e pesar.

V

- Que bom que você voltou.
- Por que está tão feliz?
- Eu não queria partir sem dizer adeus.
Sorria para a câmera. É a última foto.
Um corpo fustigado pela vida e pela traição, mergulhando para o infinito, abraçando todos os que lhe deram as costas.
Pisca a lente, porque os olhos dela não irão piscar.

VI

Agora?
Pegue a foto, emoldure-a em ressentimento, plastifique-a de perdão tardio, e a exponha em sua casa. Mostre para todos, deixe que vejam do que alguém como você é capaz.
Mas não peça perdão, porque, depois de tudo, o que ela menos quer agora é ter de ouvir sua voz. 

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

...

Se escuto sussurros na noite, é o vento brincando.
Quando vejo uma dança na janela, são as sombras ropiando.
Se me viro para o outro lado, não vejo ninguém.
Quando meu coração pula, é porque lembro que perdi alguém

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

No Amor de Papelão



:D

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Solitary Ground


Precipita-se na areia um oceano de sentimentos, tão completos e obscuros, quanto o mar aqui noturno. Levanto e banho-me nesta profusão líquida; leve e coesa, inclinada sobre meus pés. E eu me valho deste vem-e-vai eterno para embarcar meus pensamentos em naus de uma vela apenas, até que não mais luz se veja no horizonte.

Entre ondas deixo-me vagar, vazio suficiente para flutuar. Peço que a água incólume espalhe seu sal reparador por minhas feridas mundanas, emprestando-me a sabedoria curativa de um tempo incontável. Destruo-me em pedaços incoerentes, para depois juntá-los como um brinquedo sem mapa nem direção.

Minha pele acariciada pela língua d’água, amortecida, extasiada. O efeito do divino propagado em todos os toques. Sutil, de praxe, banho-me aqui como qualquer outro o faria. Descanço os ombros e sinto-lhes o peso dividido por mãos minúsculas e invisíveis, despedaçando-se para longe de mim.

Longe de mim... É o que tudo aqui parece ser.

Sou uma ilha sem ponte,
cercado por um oceano de você. 


domingo, 24 de janeiro de 2010

Dialética de Bolso





Se amanhã eu acordar e não simpatizar com o que vir além do meu reflexo, eu mudo.
E mudo porque sou dona de mim.
Posso ser condicionada por horários e regras, mas ainda possuo algo que me faz rainha de uma consciência. Eu possuo as minhas vontades. 
E com elas, sem elas, por elas, eu sou.
Não demoro a entendê-las, apenas preciso de um tempo para me entender com elas.
Os outros é que decidiram mistificá-las e, assim, pintar-me como um enigma.
Mas eu escolho as minhas cores e quero ser uma aquerela viva.
Não quero ser traços, contornos e sombreados, porque isso é para artistas.
Quero ser apenas as minhas vontades e com elas, por elas, sem elas, mudar.
Mudar sempre que me sentir intrusa em minha pele ou quando o espelho estiver embaçado.
Mudar porque de inconsistência em inconsistência se faz um ciclo perfeito.
Mas eu não quero ser perfeita.
Então eu mudo.