terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Morte em VI Atos

I

- E então, o que está esperando?
- Espero você.
- Não, não sou eu. Você só não consegue admitir.
- Talvez você esteja certa.
Ela se vira. O vento projeta sombras e ruídos na noite fria, mas ele já não está mais lá para assombrá-la.

II

- Por que voltou?
- Voltei por você.
Dor.
- Não seja cínico.
- E por que não? Desde quando você liga para a verdade?
Desde que descori suas mentiras, pensou. Engasgada de lágrimas, não conseguia responder.

III

- Você sabia?
Silêncio.
- Eu sempre soube...
- Então por que não me contou?
Pavor emerge como ferrugem no corpo, impedindo que fuja. Vê uma janela aberta e pensa Por que não? – O inferno já a alcançou.

IV

- Não queria que me visse assim...
- Sabe que não me importo.
- ...realmente não queria...
- Não faz diferença.
- ...nunca pensei que chegaria a isso...
Sempre fora sobre aparência; tudo o que ele lhe diz são mentiras, sempre foram. Quantos meses fazia? Quanto tempo leva para uma alma se despedaçar inteira?  
Perdera a noção de tempo, porém ganhara em experiência de dor e pesar.

V

- Que bom que você voltou.
- Por que está tão feliz?
- Eu não queria partir sem dizer adeus.
Sorria para a câmera. É a última foto.
Um corpo fustigado pela vida e pela traição, mergulhando para o infinito, abraçando todos os que lhe deram as costas.
Pisca a lente, porque os olhos dela não irão piscar.

VI

Agora?
Pegue a foto, emoldure-a em ressentimento, plastifique-a de perdão tardio, e a exponha em sua casa. Mostre para todos, deixe que vejam do que alguém como você é capaz.
Mas não peça perdão, porque, depois de tudo, o que ela menos quer agora é ter de ouvir sua voz. 

2 comentários:

Byers disse...

Flor, mandei um e-mail pra ti.

Rubens Medeyros.

C. / Gina disse...

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